Hoje, aos 37 anos, e olhando para trás, dou-me conta dos valores machistas, dos preconceitos típicos duma cultura patriarcal, que pesaram na minha formação. Estava (talvez ainda esteja) impregnado deles desde minha infância. Aliás, como toda criança da minha geração, nasci enredado neles.
Desde então tenho me atrevido a alguns insights. Sem a pretensão de provar nada, livre da vaidade de dizer algo fundamental, de proferir a última palavra, viajo nas ideias ao sabor das vagas da minha idiossincrasia.
Na minha juventude patriarcal, era comum a crueldade a animais. A impressão (na falta de estatísticas, só posso me apoiar nas minhas impressões, deformadas pela passagem do tempo) era de que tal crueldade era mais comumente dirigida aos gatos que aos cachorros. Os animais sempre despertaram o desprezo do bicho homem. Sorte (ou, melhor, "sorte") daqueles que souberam ser úteis - salvaram-se da completa extinção para encontrar a morte programada em abatedouros.
Além do desprezo, os gatos despertaram outra coisa. Um medo indefinível, uma angústia quase... metafísica.
É a mesma angústia que o incompreensível costuma despertar naqueles que, como dizia o poeta, tem a alma pequena.
É a mesma angústia despertada, quiçá... pelo feminino.
Sim. Gatos são animais femininos (entenda-se aqui feminino como um conceito que vai muito além do meramente biológico). Ao contrário dos cachorros, com sua postura comedidas, quase militares, os gatos, tanto os machos quanto as fêmeas, são sensuais, suaves, silenciosos. Lânguidos.
Ao contrário dos cachorros, gatos são noturnos. Cachorros guardam a propriedade. Gatos ganham os mistérios da noite.
Na cultura patriarcal, solar, lógica, da apologia à força, o corpo é instrumento de outrem. O corpo do soldado pertence ao Estado. Cachorros votam a força do seu corpo a um dono.
No mundo arcano do feminino, o corpo pertence a si próprio, ao prazer que lhe é inerente e, ao contrário do moralismo da cultura patriarcal, legítimo. Gatos vivem para si. E, ao contrário das afirmações duma certa psicologia rasteira, sua independência não os impede de amar àqueles que, ao contrário do que parece, não são seus donos.
Os cachorros tem a regularidade do sol. Os gatos incomodam com sua inconstância lunar. Podem ser carinhosos e agressivos sem que seja possível prever-se sua reação.
Voltando à afirmação acima, sempre tive a impressão de que os gatos sempre sofreram mais com a crueldade das pessoas do que os cachorros. Claro, o machismo, ao contrário do que gosta de afirmar, odeia o feminino. Teme-o porque, amparando-se no conforto covarde duma lógica que não dá conta da complexidade da vida, não sabe lidar com o que foge duma configuração binária. Não aceita o encanto do paradoxal, do indecifrável.
Mas, que fique claro, para falar duma situação (infelizmente) cotidiana, abordei o cachorro e o gato como se fosssem dois modelos arquetípicos para pensar a natureza humana. Ao contrário dos garotos da minha idade, sempre amei gatos. E sempre amei os cachorros também. Contraditório? Claro, sou um homem feminino.
Desde então tenho me atrevido a alguns insights. Sem a pretensão de provar nada, livre da vaidade de dizer algo fundamental, de proferir a última palavra, viajo nas ideias ao sabor das vagas da minha idiossincrasia.
Na minha juventude patriarcal, era comum a crueldade a animais. A impressão (na falta de estatísticas, só posso me apoiar nas minhas impressões, deformadas pela passagem do tempo) era de que tal crueldade era mais comumente dirigida aos gatos que aos cachorros. Os animais sempre despertaram o desprezo do bicho homem. Sorte (ou, melhor, "sorte") daqueles que souberam ser úteis - salvaram-se da completa extinção para encontrar a morte programada em abatedouros.
Além do desprezo, os gatos despertaram outra coisa. Um medo indefinível, uma angústia quase... metafísica.
É a mesma angústia que o incompreensível costuma despertar naqueles que, como dizia o poeta, tem a alma pequena.
É a mesma angústia despertada, quiçá... pelo feminino.
Sim. Gatos são animais femininos (entenda-se aqui feminino como um conceito que vai muito além do meramente biológico). Ao contrário dos cachorros, com sua postura comedidas, quase militares, os gatos, tanto os machos quanto as fêmeas, são sensuais, suaves, silenciosos. Lânguidos.
Ao contrário dos cachorros, gatos são noturnos. Cachorros guardam a propriedade. Gatos ganham os mistérios da noite.
Na cultura patriarcal, solar, lógica, da apologia à força, o corpo é instrumento de outrem. O corpo do soldado pertence ao Estado. Cachorros votam a força do seu corpo a um dono.
No mundo arcano do feminino, o corpo pertence a si próprio, ao prazer que lhe é inerente e, ao contrário do moralismo da cultura patriarcal, legítimo. Gatos vivem para si. E, ao contrário das afirmações duma certa psicologia rasteira, sua independência não os impede de amar àqueles que, ao contrário do que parece, não são seus donos.
Os cachorros tem a regularidade do sol. Os gatos incomodam com sua inconstância lunar. Podem ser carinhosos e agressivos sem que seja possível prever-se sua reação.
Voltando à afirmação acima, sempre tive a impressão de que os gatos sempre sofreram mais com a crueldade das pessoas do que os cachorros. Claro, o machismo, ao contrário do que gosta de afirmar, odeia o feminino. Teme-o porque, amparando-se no conforto covarde duma lógica que não dá conta da complexidade da vida, não sabe lidar com o que foge duma configuração binária. Não aceita o encanto do paradoxal, do indecifrável.
Mas, que fique claro, para falar duma situação (infelizmente) cotidiana, abordei o cachorro e o gato como se fosssem dois modelos arquetípicos para pensar a natureza humana. Ao contrário dos garotos da minha idade, sempre amei gatos. E sempre amei os cachorros também. Contraditório? Claro, sou um homem feminino.