Aforismos desaforados

Para quem não sabe, o aforismo é o gênero literário que se caracteriza por uma reflexão contida num texto curto, conciso.
Grandes nomes da cultura, desde Nietzsche até nosso Machado de Assis, já brincaram com esse gênero.
Não chego aos pés desses gigantes. Ainda assim, vou me arriscar (até porque ando de mau humor ultimamente, sendo esse "ultimamente" meus últimos 35 anos - eu tenho 36).
Aqui vão alguns aforismos desaforados:

1) Quando um não quer, dois não se amam.

2) Há males que vem... para o mal!

3) Atrás dos mais belos discursos muitas vezes se escondem as piores condutas.

4) Muitos tentam compensar com sua riqueza material sua pobreza de espírito.

5) Eterno não é o amor mas, sim, o amar.

6) Nem só de metafísica vive o homem.

7) Matar um dragão no passado era um ato heroico. Hoje, seria um crime ambiental.

Talento não traz felicidade.

9) Pobreza não traz felicidade.

10) Felicidade... não traz felicidade!

Agora, chega de brincar com o gênero. Seguem, abaixo, alguns aforismos de um dos verdadeiros mestres nesse gênero, o escritor irlandês Oscar Wilde:

1) Uma ideia que não é perigosa não merece ser chamada ideia.
2) Para saber a mínima coisa sobre si mesmo, é preciso saber tudo sobre os outros.
3) O dever é o que esperamos dos outros, mas não o que fazemos.
4) Ser bom é estar em harmonia consigo mesmo. A discórdia consiste em ser forçado a estar em harmonia com os outros.
5) A ambição é o último refúgio do fracasso.
6) O princípio de base do casamento é uma incompreensão mútua.
7) A indústria é a causa de toda fealdade.
O valor de uma ideia não tem nada a ver com a sinceridade do homem que a exprime.
9) A única diferença entre os santos e os pecadores é que todos os santos têm um passado e todos os pecadores, um futuro.
10) Hoje em dia as pessoas sabem o preço de tudo e nada sobre o valor.

Agora, um pouco da obra de um outro mestre desse gênero. O francês François VI, mais conhecido como Duque de La Rochefoucauld. Ele nasceu em 1613 e morreu 1680. Na juventude, envolveu-se com questões políticas e com guerras que quase lhe custaram a vida. Da maturidade até o fim da vida, abandonou a política para se dedicar às letras. Sua principal obra é "Máximas e Reflexões", donde extraio os aforismos que seguem:

1) O amor-próprio é o maior dos aduladores.
2) Prometemos segundo nossas esperanças, mas cumprimos segundo nossos temores.
3) O mal que praticamos não atrai tanta perseguição e ódio quanto nossas boas qualidades.
4) Se não tivéssesmos defeitos, não sentiríamos tanto prazer em notá-los nos outros.
5) Nosso arrependimento não é tanto um remorso do mal que fizemos, quanto um temor daquele que outros nos possam fazer.
6) Os anciãos gostam de dar bons conselhos, para se consolar por não estarem mais em condições de dar maus exemplos.
7) A julgar pelos seus efeitos, o amor mais se parece ao ódio que à amizade.
A recusa dos elogios é desejo de ser elogiado duas vezes.
9) Não é suficiente ter grandes qualidades, é preciso saber empregá-las.
10) Cabe somente aos grandes homens ter grandes defeitos.

Alexandre, adorei a sua seleção.Lembrei-me do saudoso Daniel Piza que em sua coluna dominical terminava com os aforismos sem juízo, todos de sua própria autoria. Para fazer uma homenagem a ele vou citar dois de seus aforismos: Toda exibição de modéstia é falsa. Bom livro não é um professor que responde, mas um amigo que faz as perguntas que você ainda não tinha conseguido fazer. Outro, para relembrar Sêneca: De todos os dias da nossa vida, poucos dedicamos a nós mesmos.

Grande Lúcio. Muito interessante esses aforismos do Daniel Piza que você postou. Espero que alguma editora se interesse, algum dia, em reuni-los num livro. Acho que é o mínimo que ele e nós merecemos.
Eu dei uma pausa mas, em breve, postarei mais alguns aforismos. É um gênero fascinante, elegante, difícil. Exige a pouco dominada arte de dizer muito com pouco.

Caro Alexandre, estive pensando nos seus aforismos e em outros do Daniel Piza. Qual seria a principal característica de um aforismo que o diferencia de uma frase, como aquela que eu mencionei do Sêneca?

Alexandre, estou mostrando mais alguns aforismos, todos do Daniel Piza, para estimular os nossos pensamentos : Celebridade é alguém que ficou famoso por falta de talento para ficar respeitado. Quem vê beleza em todas as coisas desconhece a beleza. O pior cego é o que não quer ler.Socialismo é congelar todos na mesma temperatura e então lhes oferecer um cobertor. A felicidade tem uma chance quando se abandona a obsessão de ser feliz. Se houvesse perfeição não haveria movimento. A ordem dos favores não altera o corrupto.

Geniais, geniais! Vou pesquisar outros aforismos para postá-los aqui neste espaço.
E você, Lúcio? Já pensou em brincar com essa forma literária?

Não, pelo menos até agora. Acredito que o aforismo nasce de uma postura crítica da realidade, de uma observação aguçada do cotidiano. Ninguém diz : agora vou criar aforismo, como quem senta para escolher feijão. Eu adoro aforismos. Fico lendo e relendo os seus e os do Daniel Piza. Consigo rir e chorar ao mesmo tempo.

Pessoal, mais alguns aforismos. Desta vez, do meu amigo Epicuro:

1)A necessidade é um mal. Não existe, porém, a necessidade de viver com essa necessidade.
2) Toda amizade, por mais desejável que seja por si mesma, é, no final de contas, construída sobre o proveito.
3) Somos levados à amizade menos pelo desejo daquilo que exigimos dos nossos amigos, que pela necessidade da esperança de podermos fazer tal exigência.
4) A amizade dá a volta ao mundo, anunciado a todos que acordem para a suprema felicidade.
5) Nada é suficiente para quem julgar o suficiente demasiadamente pouco.
6) Almas sem grandeza tornam-se insolentes com os sucessos, acabrunhadas com os malogros.
7) Quem menos necessita do dia vindouro recebe-o com maior alegria.
As leis existem para os sábios, não para que não pratiquem injustiças, mas para que não as sofram.
9) Aquele que inspira medo aos outros não está, ele próprio, livre desse medo.
10) A quem não basta pouco nada basta.

Mais aforismos, todos do saudoso jornalista Daniel Piza: pessoas que confundem paixão e obsessão fazem muito mal à paixão; ela é bacana e atraente.A inteligência a faria linda; sonhar não custa nada. Até a primeira parcela; Antes de escritores melhores, o Brasil precisa de leitores melhores; quem não discute não discerne; a injustiça se duplica quando só o silêncio a defronta; de meias verdades o inferno está cheio; é dizendo o que se pensa que se respeita o que o outro pensa; a vida muda bastante, mas nunca o bastante; não há nada tão parecido quanto dois rivais; fé é a esperança dos desesperados; no amor nada se é senão amador; para o mercado de futilidades jamais existe crise.