Chroma - Arte e Natureza

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    Sejamos Nacionalistas!

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    Alexandre Garcia da Silva


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    Mensagem  Alexandre Garcia da Silva Sex Ago 17, 2012 3:31 am

    O fenômeno era mais evidente anos atrás, quando a trilogia da saga "Senhor dos Aneis" fazia sucesso nas telas grandes. Mas ainda persiste. Muitos autores, a maioria, pelo menos, estreante, todos amantes de histórias de fantasia, lançando suas obras repletas de príncipes guerreiros, dragões, elfos, ogros...
    Não li nenhuma desses livros. Sequer conheço, ainda, a obra monumental do senhor Tolkien. Mas não é da qualidade literária dessas crias de o "Senhor dos Aneis" que eu pretendo falar. Há uma outra questão.
    O que acontece é que, graças ao sr. Tolkien e outros, muitos ficaram encantados com os personagens e temas das mitologias céltica e nórdica. Que, evidentemente, são ricas e fascinantes. Como todas as mitologias. Inclusive a que se formou no Brasil com a tão lembrada fusão das culturas indígena, negra e europeia (via Portugal).
    Mas, ao que parece, nossos jovens autores não se interessam muito por iaras, curupiras, boitatás e sacis. Até entendo o porquê disso.
    Tais personagens, embora únicos, não possuem aquela, digamos, grandeza épica que se nota em Gandalf & cia. Ao contrário. Até seus nomes soam de forma engraçada. Aos nossos ouvidos tão xenófilos.
    Antes de mais nada, iaras, curupiras, boitatás e sacis são temas folclóricos. E, embora o folclore seja uma área de estudo das mais apaixonantes, o próprio termo folclórico ganhou na mídia, por exemplo, um tom pejorativo (principalmente quando se trata de escândalos políticos). Além do mais, "folclore" não soa de forma solene como mitologia. Por isso, não ganha, da nossa parte, o mesmo respeito. Então, fica, assim, as nossas criaturas fantásticas são folclóricas (ou pior: "folclóricas"); as dos europeus, são mitológicas - percebem a diferença?
    Outra coisa: enquanto deuses, bruxos e elfos protagonizam verdadeiras epopeias, nossas criaturas, geralmente, ajudam a compor historinhas que soam infantis e que ficam bem, mesmo, nas tradicionais músicas infantis que aprendemos com nossos pais e avós.
    O que não se leva em conta, todavia, é que esses mesmos dragões, bruxos, príncipes e elfos nos chegam depois de um tratamento literário. Eles se apresentam grandiosos porque Tolkien e outros assim o fizeram em suas respectivas obras. Nós não vemos essas mesmas criaturas em seu estado puro, nas narrativas populares transmitidas oralmente de pai para filho. Nós não a recebemos enquanto folclore. Folclore celta, folclore nórdico... por isso é sugestiva a leitura de estudiosos especialistas no assunto. Há dois cujas obras estão traduzidas no Brasil: o romeno Mircea Eliade e o ianque Joseph Campbell (cujos livros, por exemplo, foram consultados por George Lucas para criar sua saga "Guerra nas Estrelas").
    E a mitologia grega? Talvez seja a que mais capture o imaginário de todo o mundo. Mas a mitologia grega que chegou até nós foi aquela construída literariamente por alguns dos melhores poetas e dramaturgos de todos os tempos: Homero, Hesíodo, Ésquilo, Eurípedes... o rei Édipo cuja história tanto nos desconcerta até hoje é o da tragédia de Sófocles, não o das narrativas anônimas dos "contadores de causos" da Tebas de séculos antes de Cristo. É de novo a mesma questão.
    O mesmo não aconteceu com os nossos. A literatura brasileira, salvo raras exceções, não se debruçou sobre essa riqueza folclórica de valor incalculável. Por isso, o meu apelo aos jovens escritores: consultem o estudioso Câmara Cascudo (cuja obra foi relançada anos atrás; não há mais necessidade de se garimpar seus livros em sebos) e voltem sua sensibilidade para as nossas ainda tão ignoradas criaturas.

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