Quando estava no colégio, tive um ótimo professor (aliás, um dos poucos da rede pública de ensino que podia ser assim considerado) de Gramática e de Literatura cujo método de ensino era bastante polêmico.
O Prof. Elias fazia a classe dividir-se em grupos. E a cada um deles, fazia uma pergunta. Cada acerto, um ponto. Se um grupo errasse ou não conseguisse responder, a pergunta era passada ao grupo seguinte.
Falando assim, o cenário se apresenta até divertido. E, no início, assim era de fato. Vivíamos a coisa toda como uma saudável competição. Até que...
O que aconteceu foi que os grupos foram formados entre alunos que tinham maior afinidade entre si (as famigeradas "panelinhas"). Assim, CDF se juntou com CDF. E aluno relapso, com aluno relapso.
E logo, a diferença se fez presente. Enquanto uns grupos (o meu incluído) conquistavam vários pontos que redundavam em notas excelentes, os outros ficaram numa situação vergonhosa.
E o clima na sala de aula, que sempre havia sido bom, começou a ficar desconfortável. Os que tinham mais pontos começaram a alimentar uma... discreta arrogância (eu, inclusive); enquanto aos outros restou uma... discreta mágoa.
Até que, à revelia do Prof. Elias, nós nos reunimos. E decidimos que os mais fortes iriam ajudar os mais fracos.
Nobre, não?
Pois é. Para tanto, os grupos com mais pontos passaram a fazer de tudo. Desde passar cola a, até mesmo, errar de propósito para que os grupos mais fracos ficassem com os pontos. E a coisa se equilibrou. A diferença de pontos entre os grupos diminuiu a ponto de os mais fracos contarem com pontos suficientes para, ao menos, ganharem uma nota "C".
Resolvida a questão? Nada disso. Quem disse que a vida é assim tão simples?
Logo, os grupos mais forte se deram conta de que os mais fracos, ao invés de aproveitarem a chance para estudarem mais, acomodaram-se à situação.
Resultado? Nova reunião. À revelia do Prof. Elias. E, desta vez, dos alunos mais relapsos, também.
"Não é justo! A gente se matando de estudar e eles... Não senhor! Agora, é cada um por si!"
A cooperação sai de cena. E, de novo, a competição faz ressaltar a gritante diferença entre os alunos. Uns voltaram a ficar com muitos pontos e os outros tornaram à situação vergonhosa.
E agora? Resolvida a questão? Ainda não.
É que os mais fortes começaram a sentir culpa. Sentiram como se tivessem abandonado os colegas mais fracos à própria sorte.
Então, resolveram apelar para a cooperação outra vez.
Então, os colegas mais fracos voltaram a ficar numa situação melhor.
Então, Então, os colegas mais fracos se acomodaram à situação de ganhar, de mãos beijadas, os pontos a que os outros faziam por merecer.
Então, os colegais mais estudiosos novamente se revoltaram com a situação.
Então...
O fato é os dois anos no colégio, de aulas com o Prof. Elias, foram uma espécie de pêndulo que oscilava, de forma angustiante, entre os pólos da competição e da cooperação.
O final da história: uns alunos passaram de ano; outros ficaram de recuperação; outros repetiram de ano.
O final da história. Não do dilema. Esse me atormenta até hoje. E mesmo hoje, com a maturidade conquista, eu estaria tão perdido, tão perplexo, como estava há quase vinte anos.
Nos tempos atuais em que tanto se questiona o modelo sócio-econômico vigente que privilegia a competição, a resposta seria fácil: o caminho é a cooperação. Mas, como se diz, o buraco é mais embaixo.
Além da situação acima delineada, de que a pessoa ajudada tem a inevitável situação de se acomodar à situação deixando, assim de se ater ao devido esforço, há uma outra questão em jogo: é sensato e justo podarmos os mais notáveis para que o desnível entre eles e os demais não aflore?
O Prof. Elias, com seu método polêmico, brindou-nos com uma grande provocação: o dilema entre cooperar e competir.
Como na famosa parábola da águia e das galinhas: devemos, mesmo, fazer com que a majestosa ave de rapina continue a acreditar que não passa dum mero galináceo ao invés de conquistar seu reinado nos céus?
Como disse antes, eu não sei a resposta. Esse é um dilema para a toda vida. Mas, uma coisa eu me arrisco afirmar: a luta pela igualdade é legítima. Mas deve-se tomar o cuidado para que a igualdade não se converta em mediocridade. As galinhas indiscutivelmente têm sua importância mas a águia, jamais, pode deixar de alçar seu voo.
O Prof. Elias fazia a classe dividir-se em grupos. E a cada um deles, fazia uma pergunta. Cada acerto, um ponto. Se um grupo errasse ou não conseguisse responder, a pergunta era passada ao grupo seguinte.
Falando assim, o cenário se apresenta até divertido. E, no início, assim era de fato. Vivíamos a coisa toda como uma saudável competição. Até que...
O que aconteceu foi que os grupos foram formados entre alunos que tinham maior afinidade entre si (as famigeradas "panelinhas"). Assim, CDF se juntou com CDF. E aluno relapso, com aluno relapso.
E logo, a diferença se fez presente. Enquanto uns grupos (o meu incluído) conquistavam vários pontos que redundavam em notas excelentes, os outros ficaram numa situação vergonhosa.
E o clima na sala de aula, que sempre havia sido bom, começou a ficar desconfortável. Os que tinham mais pontos começaram a alimentar uma... discreta arrogância (eu, inclusive); enquanto aos outros restou uma... discreta mágoa.
Até que, à revelia do Prof. Elias, nós nos reunimos. E decidimos que os mais fortes iriam ajudar os mais fracos.
Nobre, não?
Pois é. Para tanto, os grupos com mais pontos passaram a fazer de tudo. Desde passar cola a, até mesmo, errar de propósito para que os grupos mais fracos ficassem com os pontos. E a coisa se equilibrou. A diferença de pontos entre os grupos diminuiu a ponto de os mais fracos contarem com pontos suficientes para, ao menos, ganharem uma nota "C".
Resolvida a questão? Nada disso. Quem disse que a vida é assim tão simples?
Logo, os grupos mais forte se deram conta de que os mais fracos, ao invés de aproveitarem a chance para estudarem mais, acomodaram-se à situação.
Resultado? Nova reunião. À revelia do Prof. Elias. E, desta vez, dos alunos mais relapsos, também.
"Não é justo! A gente se matando de estudar e eles... Não senhor! Agora, é cada um por si!"
A cooperação sai de cena. E, de novo, a competição faz ressaltar a gritante diferença entre os alunos. Uns voltaram a ficar com muitos pontos e os outros tornaram à situação vergonhosa.
E agora? Resolvida a questão? Ainda não.
É que os mais fortes começaram a sentir culpa. Sentiram como se tivessem abandonado os colegas mais fracos à própria sorte.
Então, resolveram apelar para a cooperação outra vez.
Então, os colegas mais fracos voltaram a ficar numa situação melhor.
Então, Então, os colegas mais fracos se acomodaram à situação de ganhar, de mãos beijadas, os pontos a que os outros faziam por merecer.
Então, os colegais mais estudiosos novamente se revoltaram com a situação.
Então...
O fato é os dois anos no colégio, de aulas com o Prof. Elias, foram uma espécie de pêndulo que oscilava, de forma angustiante, entre os pólos da competição e da cooperação.
O final da história: uns alunos passaram de ano; outros ficaram de recuperação; outros repetiram de ano.
O final da história. Não do dilema. Esse me atormenta até hoje. E mesmo hoje, com a maturidade conquista, eu estaria tão perdido, tão perplexo, como estava há quase vinte anos.
Nos tempos atuais em que tanto se questiona o modelo sócio-econômico vigente que privilegia a competição, a resposta seria fácil: o caminho é a cooperação. Mas, como se diz, o buraco é mais embaixo.
Além da situação acima delineada, de que a pessoa ajudada tem a inevitável situação de se acomodar à situação deixando, assim de se ater ao devido esforço, há uma outra questão em jogo: é sensato e justo podarmos os mais notáveis para que o desnível entre eles e os demais não aflore?
O Prof. Elias, com seu método polêmico, brindou-nos com uma grande provocação: o dilema entre cooperar e competir.
Como na famosa parábola da águia e das galinhas: devemos, mesmo, fazer com que a majestosa ave de rapina continue a acreditar que não passa dum mero galináceo ao invés de conquistar seu reinado nos céus?
Como disse antes, eu não sei a resposta. Esse é um dilema para a toda vida. Mas, uma coisa eu me arrisco afirmar: a luta pela igualdade é legítima. Mas deve-se tomar o cuidado para que a igualdade não se converta em mediocridade. As galinhas indiscutivelmente têm sua importância mas a águia, jamais, pode deixar de alçar seu voo.