Chroma - Arte e Natureza

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    Poemas (elegias)

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    Alexandre Garcia da Silva


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    Mensagem  Alexandre Garcia da Silva Sáb Jun 16, 2012 5:50 am

    Pessoal, se vocês me permitem o atrevimento, gostaria de deixar aqui alguns poeminhas bestas, já que não tenho a pretensão de publicá-los:

    ELEGIA nº 01

    Lembro-me daquela manhã de sábado
    Que parecia ser o início de tudo, de tanto, de nada.
    Lembro-me do tempo em que isto entre nós
    Não tinha o menor pudor em ser belo
    E em que a ingenuidade dum delírio tardio
    Era a sublime ousadia ante a invencível voragem da vida.
    E isto entre nós foi tão tácito
    Que de tudo esteve nu: de confissão, significado, existência.
    Deus algum poderia perdoar tamanha fragilidade.
    Do teu prado estéril sequer colherei memória.
    Mas a fome que me abrasa o corpo,
    Fome da fome dum outro corpo,
    Jamais calará a comoção que, cega e confusa,
    Quer amar até mesmo o que chega a odiar.
    É bela a maldição do artista.
    Suas chagas florescem as vidas dos que buscam ser tocados.
    Seu corpo dança para comunicar o indizível do seu sofrer.
    E a comunhão que se impõe com singular beleza
    Não vence a dor que desespera.
    Quiçá nada é mais obsceno
    Do que a crueldade de tal comunhão.
    Quem se embevecerá com minha agonia?
    Se a minha elegia é feita de silêncio?
    Se a covardia da minha loucura não deixa suas quimeras adejarem em tuas dúvidas

    Eu não sou artista.
    O medo de te perder não coube numa performance.
    Por isso, o amor não é real, embora verdadeiro.
    Por isso, a palavra não semeia mundos no vazio negro desta solidão.
    Você irá embora.
    Simplesmente.
    Eu jamais pude seduzir a vida com as histórias que fabulei e não vivi.

    Você irá embora.
    E eu, sem poder suportar, prosseguirei,
    Pois tudo é tão pungentemente fácil quando não se tem escolha.

    Lembro-me daquela manhã de sábado,
    Na praça onde desenhávamos.
    Eu tinha as certezas só permitidas aos loucos e aos visionários,
    Pois a embriaguez da fé nos liberta do tempo e da vida.
    Lembro-me daquela manhã de sábado
    E tépidos diamantes escorrem cortantes
    Dos meus olhos tintos do arrebol da amarga vigíla.
    Que permaneça incofessa esta loucura que jamais quis compartilhar contigo
    Para que jamais perca sua imperdoável beleza.

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    Alexandre Garcia da Silva


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    Mensagem  Alexandre Garcia da Silva Seg Jun 18, 2012 5:14 am

    ELEGIA nº 02

    Para a poesia eu não tenho a lira
    Mas tenho na alma a negra matéria morta
    Donde brota a rósea inocência da vida

    Para a poesia eu não tenho a aventura
    Mas tenho a sábia tolice dos instantes
    Em que a intuição acolhe o absurdo das coisas

    Para a poesia eu não tenho o amor perdido
    Mas tenho a intenção das lágrimas
    Que nunca orvalharam os lábios dela

    Para a poesia, para a poesia... ah! Pare a poesia!
    Pare a poesia a sua cruel catequese
    Que só serve para violar a virgindade das folhas dum velho caderno!

    Os gestos, inúteis desde sempre, jazem
    E eu ainda espero seduzir com o patético em mim
    Os que buscam na dor alheia a inatingível beleza!
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    Alexandre Garcia da Silva


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    Mensagem  Alexandre Garcia da Silva Seg Jun 25, 2012 4:23 am

    ELEGIA nº 03

    Você exila os poemas que ainda não germinei
    E apaga os círios da comunhão jamais consumada
    Viola as searas, envenena a inocência dos dias
    E inspira o medo de se doar para a vida
    E ainda assim
    - ainda assim -
    No crisol da minha reles agonia
    Componho as pérolas que cintilarão, na sua noite,
    Esta obstinação chamada amor!
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    Alexandre Garcia da Silva


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    Poemas (elegias) Empty ELEGIA IV

    Mensagem  Alexandre Garcia da Silva Sáb Mar 23, 2013 6:27 am


    De que festa participam os belos sorrisos nestas fotografias?
    Que medusa os petrificou, salvando-os do tempo?
    E por que não me abençoou também com a pureza da pedra?

    O que silenciou a minha sóbria loucura? Não importa. O vinho se fez sangue
    E agora tudo está tinto da indefinível cor da madrugada
    E me envergonham o desejo santificado, a história natimorta

    Agora que tudo está desmentido como irei confortar
    O que já não tem nome nem mistério nem a fragilidade que enobrece?
    Como irei luzir em suas vidas a dor que enternece?

    A vida não vingou, mas o teatro está consumado
    Eu também abençoei meus sorrisos com a pureza da pedra

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