Na condição de bancário e participante ativo das greves de 2010 e 2012 (não fui ativo em 2011 por questões familiares...), sinto uma profunda decepção com o ocorrido na greve deste ano, simplesmente abafada com uma proposta mínima e encerrada às pressas em nome do ano eleitoral.
Transcrevo, abaixo, o texto de uma funcionária da Caixa Econômica Federal, relatando a forma absurda como a greve foi encerrada esta semana:
Transcrevo, abaixo, o texto de uma funcionária da Caixa Econômica Federal, relatando a forma absurda como a greve foi encerrada esta semana:
TEXTO ESCRITO POR UMA COMPANHEIRA DA CAIXA APÓS A TRAIÇÃO DA ÚLTIMA QUINTA-FEIRA. PARABÉNS, COMPANHEIRA! CONTINUEMOS FIRMES NALUTA!
um desabafo:
é impossível não ficar decepcionada, furiosa, puta da vida mesmo, depois do que presenciei na assembleia de hoje. Não tenho sangue de barata e, por isso, não vou conseguir escapar ao tom de desabafo e de ironia irônico, tampouco vou tentar medir palavras.
Ontem conseguimos uma vitória importante e inesperada para muitos, a vontade dos bancários da Caixa em continuar na greve preval
eceu sobre a “recomendação” do sindicato em aceitar a mixaria de proposta da Caixa, que não contempla pontos centrais da nossa campanha específica, como a isonomia e a contratação de mais funcionários (Neste último, façam as contas: a Caixa se comprometeu a contratar mais 7 mil funcionários até o fim de 2013. Nos próximos meses, aproximadamente 2 mil se aposentarão e a Caixa ainda tem a meta de abrir 2 mil agências até 2014. Ou seja, 5 mil contratações novas para 2 mil agências. Média de 2,5 funcionários por agência?! É isso mesmo, produção??).
Em resposta a isso, hoje, a própria Caixa com a cristalina colaboração do sindicato, promoveu um enorme lock-out nas agências de toda a cidade para poder conduzir seus gerentes e demais fura-greves para a assembleia e decidir o fim de uma greve que eles não fizeram.
Mas uma nova assembleia para decidir sobre a continuidade da greve?? Como se a Caixa não tinha apresentado nova proposta depois da que tinha sido rechaçada no dia anterior? Como pode?
O sindicato deve ter se perguntado: o que a gente vai ter que armar para enfiar goela abaixo a mesma proposta ridícula e indefensável de ontem?
A resposta, vimos na assembleia com requintes de perversidade: após anunciar que a Caixa não tinha feito nova proposta, a presidente Juvandia, afirmou que o que restava a ser feito era fortalecer a greve. Até aí tivemos acordo, mas eis que surge, em meio à multidão, Fernanda, a guardiã da proposta “iluminada” de rediscutir a proposta rejeitada no dia anterior. Não é preciso ter frequentado muitas assembleias para perceber o quanto o sindicato costuma dificultar a abertura de falas para qualquer trabalhador de base que queira fazer alguma proposta ou mesmo se expressar. E, por isso mesmo, é no mínimo curioso que Fernanda tenha conseguido facilmente abrir o mar vermelho de seguranças do sindicato (que ficam no pé do palco justamente para impedir que os trabalhadores tomem a fala) e fazer o trabalho sujo de apresentar essa proposta.
Diante da ilegitimidade de votar uma proposta que já tinha sido votada em assembleia soberana no dia anterior e da revolta e da fúria de muitos dos presentes em relação o sindicato se fez de desentendido, caras de paisagem de todos os componentes da mesa. Golpe agora é democracia na linguagem deles.
Eu não defendo a violência, mas se a revolta presente se convertesse em invasão do palco e inviabilização na marra dessa votação ilegítima, não se compararia à violência que já estava em curso, aquela em que o sindicato está de braços dados com a empresa e seus capachos, numa traição medonha da luta da nossa categoria, entregando por migalhas mais uma vez e com requintes de perversidade a nossa greve.
Embora pareça, eu não quero com este relato fazer uma campanha de desfiliação do sindicato ou de não sindicalização, muito pelo contrário, acho que toda essa descrença e decepção tem que ser canalizada para o combate contra o sindicato que aí está e tal como funciona. Se a decepção vira descrença e ausência da luta estaremos fazendo justamente o que mais interessa a eles, deixando o caminho livre para eles continuarem com suas atrocidades.