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    Sobre a greve dos bancários

    Thiago Silva
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    Mensagem  Thiago Silva Dom Set 30, 2012 2:40 pm

    Na condição de bancário e participante ativo das greves de 2010 e 2012 (não fui ativo em 2011 por questões familiares...), sinto uma profunda decepção com o ocorrido na greve deste ano, simplesmente abafada com uma proposta mínima e encerrada às pressas em nome do ano eleitoral.

    Transcrevo, abaixo, o texto de uma funcionária da Caixa Econômica Federal, relatando a forma absurda como a greve foi encerrada esta semana:

    TEXTO ESCRITO POR UMA COMPANHEIRA DA CAIXA APÓS A TRAIÇÃO DA ÚLTIMA QUINTA-FEIRA. PARABÉNS, COMPANHEIRA! CONTINUEMOS FIRMES NALUTA!

    um desabafo:

    é impossível não ficar decepcionada, furiosa, puta da vida mesmo, depois do que presenciei na assembleia de hoje. Não tenho sangue de barata e, por isso, não vou conseguir escapar ao tom de desabafo e de ironia irônico, tampouco vou tentar medir palavras.

    Ontem conseguimos uma vitória importante e inesperada para muitos, a vontade dos bancários da Caixa em continuar na greve preval
    eceu sobre a “recomendação” do sindicato em aceitar a mixaria de proposta da Caixa, que não contempla pontos centrais da nossa campanha específica, como a isonomia e a contratação de mais funcionários (Neste último, façam as contas: a Caixa se comprometeu a contratar mais 7 mil funcionários até o fim de 2013. Nos próximos meses, aproximadamente 2 mil se aposentarão e a Caixa ainda tem a meta de abrir 2 mil agências até 2014. Ou seja, 5 mil contratações novas para 2 mil agências. Média de 2,5 funcionários por agência?! É isso mesmo, produção??).

    Em resposta a isso, hoje, a própria Caixa com a cristalina colaboração do sindicato, promoveu um enorme lock-out nas agências de toda a cidade para poder conduzir seus gerentes e demais fura-greves para a assembleia e decidir o fim de uma greve que eles não fizeram.

    Mas uma nova assembleia para decidir sobre a continuidade da greve?? Como se a Caixa não tinha apresentado nova proposta depois da que tinha sido rechaçada no dia anterior? Como pode?

    O sindicato deve ter se perguntado: o que a gente vai ter que armar para enfiar goela abaixo a mesma proposta ridícula e indefensável de ontem?

    A resposta, vimos na assembleia com requintes de perversidade: após anunciar que a Caixa não tinha feito nova proposta, a presidente Juvandia, afirmou que o que restava a ser feito era fortalecer a greve. Até aí tivemos acordo, mas eis que surge, em meio à multidão, Fernanda, a guardiã da proposta “iluminada” de rediscutir a proposta rejeitada no dia anterior. Não é preciso ter frequentado muitas assembleias para perceber o quanto o sindicato costuma dificultar a abertura de falas para qualquer trabalhador de base que queira fazer alguma proposta ou mesmo se expressar. E, por isso mesmo, é no mínimo curioso que Fernanda tenha conseguido facilmente abrir o mar vermelho de seguranças do sindicato (que ficam no pé do palco justamente para impedir que os trabalhadores tomem a fala) e fazer o trabalho sujo de apresentar essa proposta.

    Diante da ilegitimidade de votar uma proposta que já tinha sido votada em assembleia soberana no dia anterior e da revolta e da fúria de muitos dos presentes em relação o sindicato se fez de desentendido, caras de paisagem de todos os componentes da mesa. Golpe agora é democracia na linguagem deles.

    Eu não defendo a violência, mas se a revolta presente se convertesse em invasão do palco e inviabilização na marra dessa votação ilegítima, não se compararia à violência que já estava em curso, aquela em que o sindicato está de braços dados com a empresa e seus capachos, numa traição medonha da luta da nossa categoria, entregando por migalhas mais uma vez e com requintes de perversidade a nossa greve.

    Embora pareça, eu não quero com este relato fazer uma campanha de desfiliação do sindicato ou de não sindicalização, muito pelo contrário, acho que toda essa descrença e decepção tem que ser canalizada para o combate contra o sindicato que aí está e tal como funciona. Se a decepção vira descrença e ausência da luta estaremos fazendo justamente o que mais interessa a eles, deixando o caminho livre para eles continuarem com suas atrocidades.
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    Alexandre Garcia da Silva


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    Sobre a greve dos bancários Empty Re: Sobre a greve dos bancários

    Mensagem  Alexandre Garcia da Silva Ter Out 02, 2012 3:23 am

    Thiago, ao ler o texto de sua colega, surpreendo-me com duas coisas:
    1) a situação dos funcionários da Caixa Econômica Federal é semelhante à dos funcionários do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, instituição na qual (infelizmente) trabalho: um número cada vez menor de funcionários para atender a uma demanda cada vez maior de serviço. Ou seja, a mesma equação diabólica;
    2) a cobertura de uma imprensa "independente", "séria", "imparcial", que faz questão de destacar a reivindicação de melhores salários por parte dos funcionários (com aquele tom sutil de quem diz: "Como eles podem exigir isso, com tanto trabalhador ganhando salário mínimo?") sem tocar na questão da exigência de melhores condições de trabalho.
    Há ainda um ponto de cruel semelhança: vocês foram traídos (a palavra é forte, mas é a mais adequada) pelo seu sindicato. No nosso caso, foram associações que não cumpriram o seu papel de defender os interesses da categoria que alega representar. Isso é ainda mais grave. Mais grave do que o desrespeito por parte do empregador ("Caixa Econômica" e Tribunal de Justiça de São Paulo); mais grave do que o papel da mídia que se esmera nesses casos em deformar, ao invés de informar a sociedade; mais grave do que o preconceito da população que insiste em ver os funcionários, da "Caixa" e do TJ, assim como demais funcionários do Estado e de instituições públicas, como uma casta privilegiada, que ganha muito e trabalha pouco, ou nada, em detrimento do restante da população. A ótica equivocada de que somos todos marajás - ótica essa que foi muito bem alimentada pelas presepadas eleitoreiras do sr. Fernando Collor de Melo lá nos anos 90 (tática que ele soube copiar do sr. Jânio Quadros que a empregou com o mesmo sucesso décadas antes). Por que é mais grave? Gerações de trabalhadores lutaram, muitas vezes arriscando a própria vida, para conquistarem o direito de criar uma instituição que os defenda e, quando a conquista se consolida, vem pessoas que desvirtuam essa mesma instituição.
    Mas isso não me choca tanto. A canalhice do ser humano já não me surpreende. O que me incomoda mesmo é a desinformação das demais pessoas. Desinformação essa alimentada pelas mais diversas fontes. Uma certa noite, caçando o que assistir na TV, deparo-me com o "grande" "humorista" Danilo Gentili no seu programinha "Agora É Tarde", a comentar a greve dos bancários: "Tô cagando pra eles." Uma nação que ri duma afirmativa dessa e aplaude a um imbecil desses caminha certamente para sua ruína. Econômica, social e moral.

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