O suicídio não é um ato de coragem. Também não é um ato de covardia.O suicídio é um ato de necessidade. Não, não estou fazendo apologia da morte. Quero a vida para todos. Luto diariamente para que todos vivam bem e saudáveis. Também não há nenhum resquício de desespero, pessimismo ou desilusão na minha vida para a afirmação acima mencionada. Como perdi algumas pessoas queridas que puseram termo à existência, passei a pensar melhor no momento em que se chega ao fim da linha.Iniciei um estudo de cada caso e conclui que havia muitas saídas para todos continuarem vivendo. Naquele exato momento em que a pessoa decide pelo fim, a necessidade se faz presente.É a única maneira de dissipar o desconforto interno, embora existam muitas maneiras para prosseguir lutando pela vida.Quem está fora vê muitas possibilidades;quem está decidido pelo fim, não.Foi uma reflexão que me fez entender a natureza humana e os impulsos para o fim ou para a continuidade, desfazendo a ideia carcomida da coragem ou covardia.Pensei em Pasolini e sua obra-prima Teorema.Pensei em Saura e seu belíssimo filme Antonieta.Pensei em José Lins do Rego e seu ótimo livro Riacho Doce. Notei a importância da renovação, da redescoberta, da diversificação dos interesses para que a vida ganhe novos contornos e um novo colorido. Não depositar toda a energia vital em uma única coisa ou uma única pessoa. Veio, então, a clareza de perceber, como diria Geraldo Vandré, que a vida não se resume em festivais.
2 participantes
Fim da linha
Alexandre Garcia da Silva- Mensagens : 102
Data de inscrição : 17/05/2012
Idade : 48
Localização : Poá/SP (ou Piápolis, se preferirem)
- Mensagem nº2
Re: Fim da linha
Tema espinhoso, apaixonante, polêmico!
Não tenho constrangimento nenhum em confessar: sofro de depressão e, nas fases em que a crise é mais forte, pensei, sim, em suicídio. Mas nunca cheguei ao ponto de tentar.
Querer especular sobre a moralidade, ou falta de, do gesto último, se não for desumano, é pueril. Como querer que um indivíduo pense claramente no instante em que a dor é insuportável? No momento em que toda sua alma sente que todos os instantes vindouros só prometem o completo desespero?
Quem sustenta nossas frágeis vidas são as coisas e as pessoas que amamos. E quando o amor por essas mesmas coisas e pessoas simplesmente se apaga? Ainda que temporariamente?
Em o "Mito de Sísifo", Camus afirma que a única questão filosófica verdadeiramente relevante é o se a vida realmente vale a pena. Até concordo. O problema é que o instrumento por excelência da filosofia é a razão. E não podemos nos iludir: o império que a razão construiu em nossas almas não tem muralhas fortes o suficiente para suster os assaltos da barbárie das nossas emoções. O sono da razão engendra monstros. E a sua vigília é a dum moribundo.
Mas eu me arrisco nesses torneios pseudo literários e constato que eles não dão conta de mostrar o quão horrível é o sentimento que leva a pessoa a dar cabo da própria vida.
Não tenho constrangimento nenhum em confessar: sofro de depressão e, nas fases em que a crise é mais forte, pensei, sim, em suicídio. Mas nunca cheguei ao ponto de tentar.
Querer especular sobre a moralidade, ou falta de, do gesto último, se não for desumano, é pueril. Como querer que um indivíduo pense claramente no instante em que a dor é insuportável? No momento em que toda sua alma sente que todos os instantes vindouros só prometem o completo desespero?
Quem sustenta nossas frágeis vidas são as coisas e as pessoas que amamos. E quando o amor por essas mesmas coisas e pessoas simplesmente se apaga? Ainda que temporariamente?
Em o "Mito de Sísifo", Camus afirma que a única questão filosófica verdadeiramente relevante é o se a vida realmente vale a pena. Até concordo. O problema é que o instrumento por excelência da filosofia é a razão. E não podemos nos iludir: o império que a razão construiu em nossas almas não tem muralhas fortes o suficiente para suster os assaltos da barbárie das nossas emoções. O sono da razão engendra monstros. E a sua vigília é a dum moribundo.
Mas eu me arrisco nesses torneios pseudo literários e constato que eles não dão conta de mostrar o quão horrível é o sentimento que leva a pessoa a dar cabo da própria vida.
José Lúcio de Barros- Mensagens : 38
Data de inscrição : 17/06/2012
- Mensagem nº3
Re: Fim da linha
Alexandre, você definiu bem e é mesmo espinhoso. É um assunto que tem muitas reentrâncias e aberturas. Quando se pensa que estamos delimitando, cercando o tema, ele escapa para outra vertente que não havíamos notado. Gera muitas divergências porque tem como base a vida. Como senti muito as perdas, senti vontade de rebuscar um assunto polêmico.
Alexandre Garcia da Silva- Mensagens : 102
Data de inscrição : 17/05/2012
Idade : 48
Localização : Poá/SP (ou Piápolis, se preferirem)
- Mensagem nº4
Re: Fim da linha
E por conta dessas outras aberturas é que o assunto é um completo desafio à razão.
Resumindo o que escrevi antes: julgamos (e condenamos) o suicídio tentando ser racionais. Claro que devemos ser sempre racionais. Não há dúvidas quanto a isso. O problema é que a razão fria e parcimoniosa está completamente ausente da alma duma pessoa que pensa e tenta o suicídio. O suicida está sob o dominío duma espécie de... razão desesperada. É aí que eu pergunto aos julgadores e condenadores de plantão: estará, de fato, a razão fria apta a compreender a razão desesperada?
Não sei. O que, talvez, posso afirmar é que o suicida, de alguma forma, sofre como poucos a perda da liberdade. Sente que sua vida já não é regida por ele próprio em NENHUM aspecto. O ato de dar cabo à própria vida, creio, é uma tentativa - desesperada, claro - de praticar o derradeiro ato de liberdade: não sou livre para tomar as rédeas da minha própria vida, mas ainda tenho o PODER de findá-la. O paradoxo, e a grande ironia disso tudo é: 1) a liberdade é, de fato, O grande alimento da vida; 2) perdê-la significa perder o próprio sentido em viver; 3) com esse ato desesperado o suicida retoma o grande alimento da vida que é a liberdade, mas perde, em troca, justamente, a própria vida.
Resumindo o que escrevi antes: julgamos (e condenamos) o suicídio tentando ser racionais. Claro que devemos ser sempre racionais. Não há dúvidas quanto a isso. O problema é que a razão fria e parcimoniosa está completamente ausente da alma duma pessoa que pensa e tenta o suicídio. O suicida está sob o dominío duma espécie de... razão desesperada. É aí que eu pergunto aos julgadores e condenadores de plantão: estará, de fato, a razão fria apta a compreender a razão desesperada?
Não sei. O que, talvez, posso afirmar é que o suicida, de alguma forma, sofre como poucos a perda da liberdade. Sente que sua vida já não é regida por ele próprio em NENHUM aspecto. O ato de dar cabo à própria vida, creio, é uma tentativa - desesperada, claro - de praticar o derradeiro ato de liberdade: não sou livre para tomar as rédeas da minha própria vida, mas ainda tenho o PODER de findá-la. O paradoxo, e a grande ironia disso tudo é: 1) a liberdade é, de fato, O grande alimento da vida; 2) perdê-la significa perder o próprio sentido em viver; 3) com esse ato desesperado o suicida retoma o grande alimento da vida que é a liberdade, mas perde, em troca, justamente, a própria vida.
José Lúcio de Barros- Mensagens : 38
Data de inscrição : 17/06/2012
- Mensagem nº5
Re: Fim da linha
Alexandre, a sua análise é muito boa.Quando disse que o suicídio é um ato de necessidade não quis incentivar ou instigar qualquer pessoa a dar fim da sua própria vida. Também não fui negligente ou desinteressado a ponto de dizer: pode se matar porque o suicídio é um ato de necessidade. Não. A necessidade a que me referi é uma necessidade interna.É um momento de absoluta solidão. É o suicida com ele mesmo. Não é uma necessidade estabelecida pelo outro.Só ele está sentindo o desconforto e nenhuma saída, embora existam muitas saídas para quem confortavelmente está fora assistindo tudo de camarote e dizendo: que bobagem que ele fez ou não pensou nas pessoas que o amam. O assunto merece uma análise que você certamente percebeu.
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