Era exibido na internet como um vídeo engraçado: tirado de algum programa da televisão ianque, a repórter, num barco com um pescador, exibia um peixe que acabara de ser fisgado para a câmera. Sufocado, o bicho começa a se debater. Ela se assusta e cai em cima do pescador. E ambos riem. E o expectador é convidado a rir também.
Confesso. Já ri de outros vídeos semelhantes a esse, com uma premissa parecida. Neste, pela primeira vez, prestei atenção em algo: no sofrimento silencioso do pobre animal. Quando criança, sofri muito com bronquite. Sei como poucos o quão é horrível a sensação de sufocamento, de ter nas vias respiratórias não o frescor do oxigênio, mas a chama impiedosa da falta de ar!
Era exatamente isso que o peixe sentia? Não sei. Não importa. O sofrimento era real.
E essa inédita constatação do sofrimento do peixe levou-me a uma outra: mesmo pessoas que adoram animais e que seriam incapazes de maltratar um não costumam se compadecer dos nossos irmãos aquáticos. Seu sofrimento silencioso nos é indiferente. Sua discreta agonia não nos toca.
Só mesmo pessoas doentes adorariam assistir a um vídeo no qual um gato ou um cachorro fossem trucidados. Por outro lado, pessoas normais achariam engraçado o vídeo que comentei acima. Não encaramos os peixes como animais. Não afetivamente. Além de cometerem o "pecado" de sofrerem em silêncio, vivem num meio diferente do nosso. E sua cor metálica em nada ajuda. Os peixes são pedras suaves que bailam nos rios e lagos. Não sentem empatia nem dor.
No fundo, no fundo, para o bem e, principalmente, para o mal, somos animais teatrais. No ensaio "O Paradoxo do Comediante", Didetor nos ensina que os melhores atores são justamente aqueles que fingem a emoção transmitida em cena. Os que no palco sentem de verdade a dor do personagem em geral são artistas medíocres. Todos querem a verdade nua e crua mas, na verdade, ela, para ser aceita, deve se sujeitar a uma certa coreografia previamente estabelecida. O verdadeiro depende do artifício.
Os cachorros aprenderam essa coreografia para mostrar sua dor. Os gatos, também. Os porcos, idem. Todos eles gritam. Seu sofrimento, apesar de verdadeiro, é teatral.
Os peixes, tal qual monges dum mosteiro zen, preferiram o sofrimento silencioso, a agonia discreta. É por isso que nós não respeitamos a sua dor e nem acreditamos nela.
Confesso. Já ri de outros vídeos semelhantes a esse, com uma premissa parecida. Neste, pela primeira vez, prestei atenção em algo: no sofrimento silencioso do pobre animal. Quando criança, sofri muito com bronquite. Sei como poucos o quão é horrível a sensação de sufocamento, de ter nas vias respiratórias não o frescor do oxigênio, mas a chama impiedosa da falta de ar!
Era exatamente isso que o peixe sentia? Não sei. Não importa. O sofrimento era real.
E essa inédita constatação do sofrimento do peixe levou-me a uma outra: mesmo pessoas que adoram animais e que seriam incapazes de maltratar um não costumam se compadecer dos nossos irmãos aquáticos. Seu sofrimento silencioso nos é indiferente. Sua discreta agonia não nos toca.
Só mesmo pessoas doentes adorariam assistir a um vídeo no qual um gato ou um cachorro fossem trucidados. Por outro lado, pessoas normais achariam engraçado o vídeo que comentei acima. Não encaramos os peixes como animais. Não afetivamente. Além de cometerem o "pecado" de sofrerem em silêncio, vivem num meio diferente do nosso. E sua cor metálica em nada ajuda. Os peixes são pedras suaves que bailam nos rios e lagos. Não sentem empatia nem dor.
No fundo, no fundo, para o bem e, principalmente, para o mal, somos animais teatrais. No ensaio "O Paradoxo do Comediante", Didetor nos ensina que os melhores atores são justamente aqueles que fingem a emoção transmitida em cena. Os que no palco sentem de verdade a dor do personagem em geral são artistas medíocres. Todos querem a verdade nua e crua mas, na verdade, ela, para ser aceita, deve se sujeitar a uma certa coreografia previamente estabelecida. O verdadeiro depende do artifício.
Os cachorros aprenderam essa coreografia para mostrar sua dor. Os gatos, também. Os porcos, idem. Todos eles gritam. Seu sofrimento, apesar de verdadeiro, é teatral.
Os peixes, tal qual monges dum mosteiro zen, preferiram o sofrimento silencioso, a agonia discreta. É por isso que nós não respeitamos a sua dor e nem acreditamos nela.