A impossibilidade de ser feliz

Há muito tempo estabeleci a diferença entre ser feliz e estar feliz. Posso estar feliz por vários motivos. Por rever você, ajudar um amigo, fazer uma viagem maravilhosa, participar da formatura do meu filho, ver um belo filme, salvar a vida de um animal, auxiliar e proteger uma pessoa. Já ser feliz compreende uma visão global do mundo e já não depende unicamente da minha pessoa. Tem a ver com a organização de tudo que está ao nosso redor. Como posso ser feliz sabendo da fome mundial, da existência de crianças abandonadas, da morte diária de animais. Ou ainda sabendo da existência de idosos desamparados, da falta de ética, de maldades de todos os tipos. Alguém poderá dizer que tudo isso faz parte da vida e que é preciso agir para melhorar tudo. Mas daí já entramos no terreno do estar feliz e não do ser feliz. Estar feliz depende de mim, ser feliz é uma impossibilidade constatada.

O interessante desse tema, dentre outros aspectos, é que hoje, cada vez mais, vive-se uma espécie de ditadura da felicidade. Como nosso amigo Lúcio bem explanou, há uma diferença entre estar feliz e ser feliz. E essa tal ditadura insiste na possibilidade e, pior, no dever de ser feliz!
Então, proliferam os livros de auto-ajuda, os gurus de araque, as igrejas que vendem um pedaço do céu por que as pessoas, cada vez mais imaturas, não aceitam que a vida pode (e fatalmente será) pontuada por momentos difíceis, trágicos até. Então, vive-se uma obsessão por uma felicidade nada autêntica, que transforma a todos em perfeitos imbecis com um sorriso vazio esculpido no rosto. Um otimismo estúpido que mascara o medo de encarar o abismo que trazemos em cada um de nós.
Desfrutar momentos felizes é um desejo perfeitamente legítimo. Querer ser feliz o tempo todo nada mais é que uma simples covardia. Por mais duro que seja para admitir isso, o fato é que, muitas vezes, é a dor que nos fortalece e nos torna mais sábios.

Um tema realmente interessante, meninos. ^_^

Se analisarmos bem, este ideal de felicidade está enraizado na nossa sociedade desde a formação das crianças, através do contos de fadas em que todos vivem felizes para sempre.

As pessoas devem entender que a felicidade pura e plena não é algo que deve ser buscado do lado de fora e conquistado com bens de consumo, carreira profissional, status ou ostentação. Na verdade, a felicidade vem de dentro, num exercício constante de aceitar a si mesmo, o próximo e a vida como são. ^_^

Bjns