Uma das coisas mais tristes do mundo é ver aquilo que era especial banalizar-se. Nesse processo, a coisa perde seu significado e seu poder de transformar uma vida, de ser um divisor de águas na existência de alguém.
O diagnóstico acima aplica-se a várias coisas. Por ora, quero falar de viagens.
O que se vê hoje? O sujeito trabalha duro os onze meses do ano (às vezes, por sacanagem do patrão, mais que isso). Então, nada mais justo que um mês para gozar umas férias. E nada melhor do que uma viagem para marcá-las. Então, o que se faz? Vai-se a uma agência de viagens, adquire-se um pacote, geralmente uma semana, chega-se na cidade escolhida, conhece-se uma outra paisagem, faz-se novas amizades, aproveita-se os roteiros previamente traçados pela própria agência, tira-se umas fotos, faz-se umas filmagens, compra-se umas quinquilharias...
Dois meses depois você não vai mais saber se aquela praia que você visitou fica em Maceió ou em Fortaleza.
Três meses depois você não vai se lembrar de nenhuma das peculiaridades do lugar visitado. E tais peculiaridades não afetarão em nada sua visão do mundo e da vida.
Dez meses depois você terá termidado de pagar, para o bem da economia do país, e felicidade da agência, o pacote adquirido.
Doze meses depois, o berimbau comprado em Salvador vai pro seu destino inexorável: o lixo.
Em suma: você curtiu. Mas não cresceu.
Não era esse o sentido original das viagens. Nos relatos de alguns escritores, artistas e outros, muitas vezes o sujeito, prestes a completar 18 anos e a entrar na maturidade, ganhava do pai uma viagem para um outro país ou um outro continente. Havia a visão de que ele deveria conhecer, mesmo, outras paisagens, outras culturas, deparar-se com a real grandeza do mundo, saber que ele é muito, muito maior do que os limites do nosso estreito círculo familiar. Descobrir o quão relativos são os valores e a verdade. Hoje, o infeliz orgulha-se de pertencer a uma torcida de futebol. Naqueles tempos, o sujeito deveria ter a pretensão de ser um cidadão do mundo. E sua alma e sua visão deveriam ser tão grandes e generosos quanto.
Lembra-se do que falei acima dos dez meses depois? Pois é. Como a economia precisa se movimentar, o dinheiro circular, deve-se estimular a criatura a viajar e a viajar e a viajar. No mínimo, uma vez por ano. Empresas devem ser mantidas, empregos devem ser garantidos.
Nos outros tempos, não. As finanças estavam fora disso. Importava uma única viagem. Uma única viagem era A VIAGEM. Pois se a riqueza das nações depende do banal, a vida exige aquilo que é especial.
Quem, hoje, me parece resgatar o sentido iniciático das viagens são os mochileiros. Pois eles, ao contrário dos que adquirem pacotes, não querem comprar quinquilharias e se embebedar atrás de algum trio elétrico. Querem, fundamentalmente, conhecer. Quem, de fato, quer conhecer? Digo conhecer no seu sentido máximo, transformador! Quantos querem isso de fato? Nesses tempos onde a futilidade é vista como algo normal, aceitável, e a inteligência tornou-se uma ofensa?
É um dos piores sintomas dessa nossa época tão horrível. O que foi experiência hoje torna-se mercadoria. Barata. Uma mercadoria barata que muitas vezes custa caro.
Eu, de certa forma, já fiz várias viagens. Mas nunca fiz a minha VIAGEM. Não no sentido físico, pelo menos. Consolei-me na literatura, nas HQs, nas artes, na minha silenciosa loucura.
O diagnóstico acima aplica-se a várias coisas. Por ora, quero falar de viagens.
O que se vê hoje? O sujeito trabalha duro os onze meses do ano (às vezes, por sacanagem do patrão, mais que isso). Então, nada mais justo que um mês para gozar umas férias. E nada melhor do que uma viagem para marcá-las. Então, o que se faz? Vai-se a uma agência de viagens, adquire-se um pacote, geralmente uma semana, chega-se na cidade escolhida, conhece-se uma outra paisagem, faz-se novas amizades, aproveita-se os roteiros previamente traçados pela própria agência, tira-se umas fotos, faz-se umas filmagens, compra-se umas quinquilharias...
Dois meses depois você não vai mais saber se aquela praia que você visitou fica em Maceió ou em Fortaleza.
Três meses depois você não vai se lembrar de nenhuma das peculiaridades do lugar visitado. E tais peculiaridades não afetarão em nada sua visão do mundo e da vida.
Dez meses depois você terá termidado de pagar, para o bem da economia do país, e felicidade da agência, o pacote adquirido.
Doze meses depois, o berimbau comprado em Salvador vai pro seu destino inexorável: o lixo.
Em suma: você curtiu. Mas não cresceu.
Não era esse o sentido original das viagens. Nos relatos de alguns escritores, artistas e outros, muitas vezes o sujeito, prestes a completar 18 anos e a entrar na maturidade, ganhava do pai uma viagem para um outro país ou um outro continente. Havia a visão de que ele deveria conhecer, mesmo, outras paisagens, outras culturas, deparar-se com a real grandeza do mundo, saber que ele é muito, muito maior do que os limites do nosso estreito círculo familiar. Descobrir o quão relativos são os valores e a verdade. Hoje, o infeliz orgulha-se de pertencer a uma torcida de futebol. Naqueles tempos, o sujeito deveria ter a pretensão de ser um cidadão do mundo. E sua alma e sua visão deveriam ser tão grandes e generosos quanto.
Lembra-se do que falei acima dos dez meses depois? Pois é. Como a economia precisa se movimentar, o dinheiro circular, deve-se estimular a criatura a viajar e a viajar e a viajar. No mínimo, uma vez por ano. Empresas devem ser mantidas, empregos devem ser garantidos.
Nos outros tempos, não. As finanças estavam fora disso. Importava uma única viagem. Uma única viagem era A VIAGEM. Pois se a riqueza das nações depende do banal, a vida exige aquilo que é especial.
Quem, hoje, me parece resgatar o sentido iniciático das viagens são os mochileiros. Pois eles, ao contrário dos que adquirem pacotes, não querem comprar quinquilharias e se embebedar atrás de algum trio elétrico. Querem, fundamentalmente, conhecer. Quem, de fato, quer conhecer? Digo conhecer no seu sentido máximo, transformador! Quantos querem isso de fato? Nesses tempos onde a futilidade é vista como algo normal, aceitável, e a inteligência tornou-se uma ofensa?
É um dos piores sintomas dessa nossa época tão horrível. O que foi experiência hoje torna-se mercadoria. Barata. Uma mercadoria barata que muitas vezes custa caro.
Eu, de certa forma, já fiz várias viagens. Mas nunca fiz a minha VIAGEM. Não no sentido físico, pelo menos. Consolei-me na literatura, nas HQs, nas artes, na minha silenciosa loucura.