A deseducação na minha vida escolar

Acordei recordando alguns momentos de deseducação na minha vida escolar. Lembrei-me de uma professora que dizia que o boi era um animal útil ao homem porque nos dava a carne,o couro e com os seus chifres podíamos fazer botões.Como se o boi fosse obrigado a dar a vida dele para satisfazermos as nossas necessidades.Lembrei-me de uma professora de Ciências que abria sapos depois de anestesiá-los para ensinar o funcionamento de seus corpos.Como se matar um animal fosse uma prática científica.Lembrei-me de um padre, professor de Português, arrogante e autoritário, que não sabia dar aulas e ficava quase sempre sentado falando coisas inúteis para os alunos.Uma verdadeira aula de deseducação. Lembrei-me de uma professora de Matemática que humilhava os alunos com dificuldades na matéria.Não sabia nada, era insegura e a humilhação passava a ser a sua única saída.Lembrei-me finalmente de um outro professor que levava os alunos para pescar como uma forma de lazer.Como se os peixes fossem insensíveis e saíssem todos alegres e sorrindo ao serem fisgados.É muita insensibilidade. Foi muito sofrimento inútil.

Lúcio, você chegou a ler o meu tópico "Um Dilema Pedagógico (Pra Toda Vida)"? Gostaria de uma opinião sua sobre meu antigo professor de gramática e de literatura.

Alexandre, o Prof. Elias tinha mesmo um método polêmico. O que ele precisava era perceber o desnível dos alunos e fazer com que os mais fracos fossem melhor assessorados ou por ele mesmo ou pelos alunos mais aptos.Assim haveria uma integração maior entre todos. Acredito na cooperação sem atiçar a competição. Ainda mais quando a disparidade entre os alunos era evidente. O ensino precisa ter leveza e profundidade para que o ato de aprender seja prazeroso. A sala de aula não é uma pista de corrida de carros para vermos quem chega primeiro.É preciso considerar as diferenças individuais.

Lúcio, em que momento de sua vida você se deu conta dos equívocos que lhe foram transmitidos pelos seus professores?
Não houve nenhum professor(a) que te marcou de forma positiva?

Alexandre, eu percebia os equívocos, o descaso e a intolerância desde muito cedo na minha vida escolar. Era uma escola em que os alunos não participavam das aulas. Tiravam uma dúvida e se calavam. Não havia abertura para polêmicas. O professor da minha vida é o Osvaldo Melantonio. Divertido,culto e elegante, sabia tirar proveito de todos os alunos, do que eles podiam oferecer, sem desmerecê-los. Foi ele quem descortinou a minha alma e mostrou o meu retardamento.

Osvaldo Melantonio? Interessante! Fale-me mais dele. Que matéria ele lecionava? Ele foi um divisor de águas na sua vida?
Embora eu não seja místico, há uma máxima entre aqueles que o são e com a qual, de certa forma, eu concordo: a de que há um mestre destinado para todos nós nesta vida. Teria ele encarnado o arquétipo do mestre na sua vida?
E você? Já se deu conta de que pode ter encarnado esse mesmo arquétipo para alguém?

O professor Osvaldo Melantonio lecionava Comunicações Verbais. Foi ele quem me ensinou a falar quando eu já tinha 18 anos. Era um Kaspar Hauser de Herzog. Hoje sou um Kaspar Hauser melhorado, já consigo andar. Não falava devido a repressão familiar e escolar. Devo muito a ele a minha curiosidade pelos assuntos gerais.